O Governo de Santa Catarina está em fase de implantação de uma nova modalidade de revista nas unidades prisionais do estado. A inspeção, por meio de escâneres corporais que emitem radiação ionizante, seria a tão aguardada solução para a problemática da revista íntima, bastante questionada por ser vexatória aos visitantes dos presos.
Contudo, o Conselho Regional de Técnicos em Radiologia de Santa Catarina (CRTR 11ª Região) e o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual de Santa Catarina (SINTESPE) observaram que, nesse processo, a preocupação com a segurança tornou-se secundária e os danos podem ser maiores do que os benefícios que se esperava. O caso ganhou repercussão e foi discutido por especialistas na televisão.
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Como é do conhecimento de todos os técnicos e tecnólogos em Radiologia, os raios X podem ser uma excelente ferramenta de segurança. Entretanto, o seu uso sem um rigoroso controle das doses absorvidas coloca em risco a saúde dos operadores, dos visitantes e dos custodiados. Esse quadro que se pretende evitar em Santa Catarina, onde os trabalhadores que operarão os equipamentos de inspeção ainda não possuem a qualificação adequada para o trabalho. Os resultados não são difíceis de prever. Essa não é a primeira vez que a situação ocorre em presídios brasileiros.
Em novembro de 2013, o Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER) veiculou o documentário Revista da Morte, que aponta uma série de abortos suspeitos que aconteceram em um presídio no Espírito Santo. Todas as mães que perderam os bebês passaram por revista inadequada em prisões daquele estado. Entre outros erros, há relatos de agentes que confundiram o feto no ventre das mulheres com drogas, fazendo-as realizar o procedimento de revista por repetidas vezes.
A presidente CONTER, Valdelice Teodoro, ressalta a importância dos aspectos relacionados à radioproteção e dosimetria. “Nós não somos contra a utilização desse tipo de tecnologia, nossa preocupação recai sobre quem está operando esses equipamentos. Um profissional que não estudou Radiologia não sabe, por exemplo, o que é um levantamento radiométrico, não sabe controlar a dose efetiva de radiação que o equipamento está emitindo. Esse desconhecimento pode colocar em risco a saúde do trabalhador e do público atendido”.
A presidente reitera que a exposição indiscriminada à radiação pode ter efeitos que variam de queimaduras, vômitos e cefaleia a situações mais graves, como mutações do DNA, morte celular e até o desenvolvimento de tumores.
Conselho e sindicato emitiram nota explicando sobre os riscos dessa situação (leia aqui). Atualmente as instituições se mobilizam, junto ao governo, para tentar reverter a situação. Os gestores públicos, contudo, ainda não responderam os ofícios encaminhados com o objetivo de negociar a situação.